Blog do Instituto Casa de Autores, uma organização sem fins lucrativos cujo objetivo é fomentar a leitura e qualidade dos escritores no Brasil.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Mães, filhos e dinheiro: como fica essa relação?




O dinheiro tem um significado simbólico que precisa ser entendido para poder ser bem manejado. Em nossa sociedade, ele é símbolo de status, poder, segurança e liberdade. E também está associado, equivocadamente, a afeto. O sistema nos ensina a materializar as relações afetivas e por conta disso crescemos misturando dinheiro com amor.

A capacidade de gerar renda normalmente está ligada ao trabalho e ao mundo externo. Dessa maneira, conseguir dinheiro está conectado ao universo masculino que, antropologicamente falando, foi programado para ir “à caça”. Naqueles tempos, cabia à mulher aconchegar e nutrir emocionalmente sua prole.

Com as mudanças da sociedade e o crescimento do mercado profissional, nós, mulheres, passamos “a ir à caça” também. E com isso temos um novo desafio: conciliar nossa capacidade de produzir rendimentos, sem perder nossa feminilidade e habilidade cuidadora.

Precisamos lembrar que, antes de sermos mães, um dia fomos filhas. Por isso, para educar nossos filhos financeiramente, é importante parar pra refletir sobre o que nos foi ensinado sobre dinheiro, especialmente por nossos pais e outras pessoas importantes de nossas vidas.

Aprendemos a depender de alguém ou a gerar nosso dinheiro e construir uma carreira sólida para nos manter financeiramente? Aqui não tem certo e errado, melhor ou pior. Precisamos, apenas, ter nossa própria vivência como ponto de partida.

Quantas de nós, desde a infância, fomos ensinadas a cuidar do outro e a nos preocupar com quem estava por perto? Aprendemos e nos tornamos especialistas em agradar o outro! E, ainda, fomos também incentivadas a nos colocar em último lugar! Uma maneira fácil de detectar isso é perceber se você já se viu querendo demonstrar seu profundo bem querer por alguém – especialmente os filhos – comprando presentes caros que, muitas vezes, estavam fora de sua realidade econômica.

Infelizmente, é muito comum ver mulheres que têm uma atividade laboral intensa, adquirindo muitas coisas para a casa, o marido e os filhos, ou mesmo não impondo limites a eles, na tentativa de amainar a culpa pela falta de tempo dedicado à família. Esse mecanismo de consumo cria um alívio ilusório e momentâneo desse mal-estar. Entretanto, essa conduta pode detonar o orçamento.

Além disso, não é raro muitas mães (e pais!) tentarem dar aos filhos tudo aquilo que desejaram na infância e não puderam ter. É importante não misturar nossa história com a de nossos filhos. É uma atitude sensata dar aquilo que está dentro de nossas reais possibilidades.

É fato que os filhos trazem muita alegria ao convívio familiar, mas também despesas. Se os pais não puderam fazer um planejamento prévio para a chegada deles, é importante organizar as finanças o mais breve possível. Os filhos pesam no orçamento quando os pais não conseguem fazer uma boa gestão de sua renda.

Dentro da organização de seus recursos é fundamental planejar o seu futuro financeiro e realizá-lo. Construa uma boa carteira de investimentos para seus gastos, para sua aposentadoria, e crie condições para o seu filho um dia também poder fazer a dele. É muito triste ver idosos sem condições de se manter financeiramente, tendo que viver às custas dos filhos. Imagine se você, hoje, além de sustentar seus dependentes, também precisasse sustentar seus pais? Não seria pesado?

Para as finanças, vale a mesma regra dos aviões: “Primeiro coloque a máscara de oxigênio em você, depois na criança que estiver ao seu lado”. Pensar em previdência para os filhos antes de garantir a sua pode ser uma armadilha. Ou você espera que seu filho a sustente na velhice? Essa é uma inversão de papéis injusta.

Garantida a sua aposentadoria, você pode, então, pensar no que deixar a seus herdeiros. Se for possível deixar bens materiais, ótimo. Porém, não é saudável se endividar ou ter uma vida sacrificada para deixar uma herança aos filhos. Um belo legado pode ser uma educação consistente, capaz de prepará-los para a vida, com a permissão para criarem seus próprios caminhos, juntamente com um profundo amor e apoio incondicional. Se seus filhos forem donos de uma boa autoestima, regada com bons valores, ousadia e boa cultura, crescer e conseguir gerar a própria fortuna será apenas uma questão de tempo.

Se pudermos oferecer a nossos filhos uma educação de qualidade em todos os aspectos, inclusive financeiramente, estaremos não só contribuindo para que eles tenham um futuro promissor e uma vida provavelmente melhor do que a nossa, mas também estaremos colaborando para a evolução da humanidade. Dessa maneira, eles poderão praticar o consumo consciente, fazendo escolhas inteligentes e se engajando socialmente na melhoria do planeta.


Angélica Rodrigues Santos Professora, psicóloga, especialista em Psicologia Clínica, Organizacional e do Trabalho, autora do livro “Família, afeto e finanças – como colocar cada vez mais dinheiro e amor em seu lar”, em parceria com Rogério Olegário do Carmo

Nenhum comentário:

Postar um comentário